quinta-feira, 26 de abril de 2012

Voltando...

Bom, após alguns meses de ausência, acho que estou precisando de terapia... Como ainda não posso pagar um bom psicólogo, vou escrever, porque é de graça, me faz bem e alivia minha ansiedade.

Nos últimos dias/meses/anos, tenho sempre prestado atenção a um tipo de crítica que, se analisada sem o devido cuidado, torna-se um tipo de preconceito muito comum, porém não tão reconhecido: o preconceito linguístico.

É de conhecimento geral a constatação de que algumas pessoas possuem dificuldade em lidar com a língua escrita, tornando-as alvo de chacotas, de piadas. Confesso que, em alguns momento, vejo que esses "erros" são motivos de risos, contudo, não deveriam ser.

Há que não concorde com a posição já consolidada da Linguística de que não há erros cometidos por falantes legítimos de um idioma, o que há (e eu concordo com essa visão) é uma discrepância entre o uso linguístico do falante e o contexto em que ele está inserido em um determinado momento de comunicação/interação verbal (seja oral ou escrita). Em outras palavras, por mais que o falante domine todas as regras de uso das variedades ditas populares e informais, ainda lhe falta o domínio, não linguístico, mas discursivo, pragmático, ideológico e social que determinados segmentos e gêneros textuais exigem.

Um exemplo prático de que um falante do português brasileiro não comete erros quando usa sua língua é o fato de ele, em hipótese alguma, construir uma oração da seguinte forma: "cinema menino ao o foi". Ora, todo falante da língua domina as regras estruturais desta, mesmo que em seu repertório falte recursos presentes e exigidos em usos de variedades mais formais e cultas da língua. Entretanto, um estrangeiro, falante nativo da língua inglesa, esforçando-se bastante para usar o português sem conhecer bem o idioma, poderia muito bem dizer "muita boa", pois não há marcas de mudança de gênero na expressão "very good".

Ocorre que, por ter sido vítima de um péssimo, insuficiente e fracassado modelo educacional, ou mesmo não ter tido acesso a nenhuma educação de qualidade, o falante precisa se inserir num mundo cada vez mais letrado, cada vez mais elitizado cultural e socialmente, apesar dos inúmeros esforços do governo em diminuir a distância entre ricos e pobres, e, não obstante, o papel da internet em universalizar o acesso a determinados conhecimentos.

Bom, acredito que esses inúmeros casos de intolerância sejam mesmo falta de conhecimento de muitos acerca da variação e da mudança linguísticas. Ao invés de criticarmos, por que não auxiliamo estas pessoas a se inserirem cada vez mais e com mais êxito num mundo cada vez mais dominado pelas palavras? Escrever errado não é um defeito, é, mais do que isso, um reflexo da realidade deste país e da força do ser humano de ser ouvido/lido e compreendido dentro de sua dura realidade.