segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ainda sobre impessoalidade...

Bom, aproveitando o texto anterior, vou colocar aqui uma crônica minha (inspirada na crônica "João, Francisco, Antônio" de Cecília Meireles) acerca de verbos considerados impessoais quando exprimem tempo. Leiam e comentem o que acham da crítica e dessa forma diferente de se analisar tais verbos. Apreciem!


Ter, Fazer, Haver

Ter, fazer, haver é um verbo que, no Brasil, é atacado com certa frequência. Isso porque podemos usá-lo indicando tempo: “Têm/Faz/Há dias que não vejo ele.” Porém, nem todos conseguem ver essa verdade.
Ter, fazer, haver costuma ser estudado como um caso particular, uma das condições para a formação de oração sem sujeito: um termo essencial, mas que pode nem mesmo existir! Como pode? Ter, fazer, haver não tem culpa disso, é apenas um verbo! Ter, fazer, haver costuma ser hostilizado pelos gramáticos, ao mostrarem que não pode ser usado no plural, pois isso é um erro imperdoável! Ter, fazer, haver é até chamado de impessoal! Como pode?
Ter, fazer, haver só quer fazer parte da fala comum dos brasileiros, tanto da fala informal, quanto da fala formal. Ter, fazer, haver sonha em aparecer na escrita e, principalmente, numa gramática com o nome de brasileira.
Apesar de tudo, ter, fazer, haver é muito respeitado, sim senhor! Respeitado e valorizado pelos linguistas, seus maiores amigos e defensores. Tudo o que ele quer é uma chance de mostrar a sua importância, a sua marca comum e corriqueira, a sua naturalidade.
Ter, fazer, haver também é famoso: aparece nos noticiários, nos jornais, revistas, outdoors, e até na internet! Ter, fazer, haver até já foi tema de trabalho científico, de pesquisa, de debate... Já apareceu em muitos livros importantes! É colega dos jornalistas, dos professores, dos escritores, poetas, dos jovens, dos adultos... É amigo do Chico Buarque e, pasmem, até mesmo do presidente! Ter, fazer, haver é muito conhecido!
Não quer forçar, não quer obrigar, não quer ditar... Não quer dizer o que é certo ou o que é errado, somente busca o seu lugar no mundo! Ter, fazer, haver trabalha muito, ganha pouco, sofre, chora, às vezes passa fome, frio, é vítima de preconceito, sempre espera pelas promessas durante as campanhas políticas... Só quer mesmo uma educação de qualidade, saúde, segurança, uma vida digna e sem tristezas! Ter, fazer, haver só quer ser feliz... Isso é pedir demais?

Ter, fazer, haver não tem culpa disso tudo. Ter, fazer, haver é heterogêneo, mutável, adaptável, sofre variação e mudança. Enfim, ter, fazer, haver é companheiro dos brasileiros, ambos andam juntos, lado a lado, e estão desde sempre amarrados. E digo mais: essa é uma amizade que não pode ser desfeita!

Impessoalidade

Boa noite! Tudo bem?

Bom, vou falar hoje sobre o uso de alguns verbos ditos impessoais, ou seja, aqueles que não se ligam a nenhum sujeito.

Normalmente, o verbo “haver”, quando exprime o sentido de existir, é sempre impessoal e invariável (Havia pessoas na manifestação). No entanto, o verbo existir, se usado numa oração, não é impessoal, possui sujeito e varia (Existiam pessoas na manifestação). Observe agora esta belíssima canção do grande Lulu Santos:



Há alguns versos interessantes na letra dessa música os quais merecem atenção:

“Não existiria som se não houvesse o silêncio/ Não haveria luz se não fosse a escuridão (...) Tem certas coisas que eu não sei dizer”

Vejam os verbos desses versos: o primeiro deles é “existiria” e seu sujeito é “som”; “houvesse” e “haveria” são impessoais, portanto, não precisam de sujeito. Agora há dois verbos (fosse e tem) os quais, nesse contexto, podem se trocados por “haver” ou “existir”.

Não está contemplado nas gramáticas normativas o uso desses verbos desta maneira, o que nos leva a pensar que se trata de um uso legítimo e próprio do Português Brasileiro. Além disso, no caso do verbo “tem”, é preciso que ele venha acentuado (Têm), pois há um sujeito posposto no plural.

Agora, observem esta canção do grupo Falamansa:



Vamos analisar a primeira estrofe da música:

“Não haveria guerra, se não fosse a ignorância./ Não haveria acordo que não fosse a paz./ Eu poderia até andar descalço pela rua, / Não haveriam cacos pra cortar os pés”

Aqui, temos o verbo “haveria”, nos dois primeiros casos, usado da maneira contemplada pela gramática, ou seja, impessoal (com sentido de existir) e invariável. O verbo “fosse”, entretanto, não funciona do mesmo modo nas duas ocorrências: no primeiro caso, pode ser substituído por “haver” ou “existir”, mas no segundo caso é um verbo de ligação, ou seja, o acordo poderia ser a paz, seria a paz, é a paz.

Ao final, observamos que o verbo “haveria”, apesar de ser impessoal, está no plural! Como pode isso? Em variedades mais populares da língua, as pessoas conjugam o verbo “haver” como se fosse outro verbo qualquer, porque muitos falantes desconhecem o que é um verbo impessoal. Eu pergunto: qual o problema de se usar esse verbo no plural, mesmo sendo impessoal? Talvez ele não seja tão impessoal assim... Talvez o falante, que é inteligente e conhece muito bem o idioma que usa, tenha criado uma nova forma de se usar esse verbo, não como impessoal, mas como um verbo que pede sujeito. No caso da música, talvez seja apenas “licença poética”, mas creio que se trata de uma situação de mudança linguística em curso...

Enfim, há tantas formas de se usar os verbos e haverá(ão) muitas possibilidades no futuro. Têm muitas coisas que precisam ser explicadas...



quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vai entender...

Boa noite!

Pessoal, hoje vou escrever sobre um tema bastante polêmico e que sempre gera dúvidas entre os alunos, além de causar discussão entre os professores de gramática: a Voz Passiva.

A princípio, vamos entender que uma oração estará na voz ativa quando houver um sujeito ativo que pratica alguma ação (Meu tio aluga salas). Já a voz passiva pode se apresentar de duas formas:

a) Voz Passiva Analítica: Meu tio aluga salas → Salas são alugadas pelo meu tio, na qual o objeto direto torna-se sujeito paciente da oração, o verbo torna-se locução verbal (com o auxílio dos verbos ser, estar e ficar) e o sujeito da voz ativa torna-se agente da passiva, sempre preposicionado;

b) Voz Passiva Sintética: Alugam-se salas, na qual não há agente da passiva, apenas o verbo (transitivo direto ou transitivo direto e indireto) seguido da partícula apassivadora “se”, mais o “sujeito”.

Pois bem, qual é o problema da Voz Passiva?

Primeiramente, é possível confundir o uso do pronome “se”, o qual, em alguns contextos, pode vir a ser Índice de Indeterminação do Sujeito, ou seja, marca que na oração o sujeito não pode ser determinado (Precisa-se de professores). Neste caso, não é possível transformar a Voz Passiva Sintética em Voz Passiva Analítica, além disso, para esse caso, os verbos deverão ser transitivos indiretos, intransitivos ou de ligação.

Em segundo lugar, a Voz Passiva Sintética só acontece, gramaticalmente falando, quando verbo e “sujeito” (que mais parece um complemento verbal) concordam entre si. Ou seja, é como se esse “complemento” funcionasse como sujeito da oração, ou melhor, funciona como sujeito paciente na Voz Passiva Analítica (Alugam-se salas → Salas são alugadas).

Porém, percebam: mesmo em se tratando de uma regra gramatical, observa-se um problema em relação à classificação do sujeito? Na oração “Alugam-se casas”, quem está realizando a ação? As casas? Certamente, não. Então, pode-se concluir que o sujeito também é indeterminado, não é mesmo? Infelizmente, a gramática insiste em afirmar que esse sujeito é simples. Como assim, você deve estar se perguntando?

Pois é... É um dos problemas da nossa querida gramática. Ela, por si só, não dá conta de resolver esses problemas. Vejam: intuitivamente, você sabe que o sujeito não está marcado ali. Dessa forma, tanto faz se o verbo estiver no plural ou no singular (Aluga-se casas/Alugam-se casa), certo? No entanto, a gramática só aceita que o verbo esteja concordando com esse termo que vem logo depois da Partícula Apassivadora.



Você, provavelmente, já viu placas ou propagandas por aí escritas de maneira diferente, certo? Tais como “Joga-se búzios”, “Aluga-se casas”, “Vende-se lotes” etc. Observem que, mesmo grafadas de maneira “errada”, essas formas representam exatamente o que o falante quis informar: há alguém, não mencionado, que joga búzios, que aluga casas, que vende lotes. Ou seja, o brasileiro, todos os dias, usa corretamente essas formas sem cometer nenhum erro. No entanto, os gramáticos continuam insistindo nessa regra ultrapassada e sem sentido. Não estou dizendo que vocês devem abolir de vez a regra e seguir o que estou afirmando. Apenas quero ressaltar que há fenômenos na nossa língua que não são mencionados pelas gramáticas em geral.

Creio, ainda, que essa história de dar nomes de Partícula Apassivadora e Índice de Indeterminação do Sujeito também deve ser extinta. Para uma reorganização desse fenômeno, leiam o segundo livro que está nas referências abaixo, o qual foi escrito pelo professor Marcos Bagno. 

Certo é que o falante sabe das coisas e usa o Português Brasileiro todos os dias, com maestria e sabedoria. Por que não aceitar de vez ambas as formas como legítimas do nosso idioma, porém uma em variedades mais cultas, e outra em variedades mais populares? Ou mesmo que AMBAS ocorrem em contextos mais formais e menos formais?


Enfim, resta-nos esperar pelo reconhecimento do nosso verdadeiro idioma...


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, M.. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. 3a Edição. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

_____. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

SCHERRE, M. M. P.. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Crônica

Pessoal, boa noite!

Hoje vou compartilhar com todos uma de minhas crônicas preferidas.

Apreciem!


A ROSEIRA

Há sabedoria por toda parte, só basta olharmos com calma e refletirmos com paciência. Hoje minha avó decidiu que era hora de podar uma velha roseira que ela planta aqui em casa. Velha mesmo, porque desde que me lembro, minha bisavó era quem cuidava dela, da roseira. Tem época que dá rosas lindas, mas tem época que os galhos secam e é preciso cortar alguns. Porém, a roseira da minha avó tem uma peculiaridade: como toda roseira que se preze, é recheada de espinhos pontiagudos e traiçoeiros. Se encostar em um deles, vai saber que machucam.

Pois bem, vi minha avó levando uma pequena faca e um cutelo para realizar a penosa tarefa. Pensei comigo: “Coitada, não vai aguentar dar um golpe...” Pedi, então, que eu realizasse aquela tarefa, diga-se de passagem, chata e entediante.

Minha avó me orientou e disse quais galhos eu deveria podar. Uns mais grossos, outros mais finos, uns bem secos, outros cheios de espinhos. Ela dizia que precisava cortar no mês de agosto, porque em setembro estariam todos grandes, fortes e brotados de rosas. Nem dei tanto ouvido aos comentários dela, queria mesmo era derrubar aqueles galhos. Não satisfeito com as ferramentas que tinha em minhas mãos, pedi a ela que trouxesse um pequeno serrote, a fim de facilitar minha vida e terminar rapidamente aquela tarefa.
Ao poucos, percebi que os galhos antes pontudamente espinhosos e sinuosos caiam com golpes e movimentos serróticos. Alguns caiam em meus pés, outros furavam meus dedos que, mesmo portando um pano grosso para segurá-los, não era suficiente para evitar aquela roseira acupunturista. Ao final, sobrou apenas o toco principal e alguns pequenos galhos já estampando lindos brotos. Realmente, aquela roseira em seus dias de glória encantava os olhos de quem a admirasse (e agradava aos ladrõezinhos de rosas que insistiam e levar algumas). Em minhas mãos, os sinais de trabalho: galos e marcas de esforço para tentar cortar simples galhos de roseira. Além, é claro, de belas feridas de espinhos.

Aquela cena tocou-me profundamente, como se a própria planta ali ferida e desarmada quisesse dizer-me ou me ensinar algo: sim, como não percebi antes, aquela roseira é a vida de todos nós! Nossos galhos cheios de espinhos, de defeitos, estão sempre armados, caso alguém se sinta confortável para se aproximar de nós. Alguns de nossos galhos secam e caem naturalmente, talvez porque percebamos que eles não nos servem mais. Outros insistem em permanecer grossos, por nossa vontade ou falta de consciência.

Sempre haverá quem queira podar alguns galhos em nós. Talvez muitas mãos (ou corações) se encham de calos e marcas, mas, tal como minha vontade de cortá-los, essas pessoas não desistem, mesmo sabendo que se trata de um trabalho que deveria ser feito por nós mesmos. No fundo, sabemos que precisamos sempre de ferramentas mais potentes e poderosas para derrubar os galhos mais resistentes. Entretanto, por mais que nos esqueçamos, lá sempre brotarão as rosas de nossas virtudes. Lá, estrategicamente nascidas nas pontas dos galhos cheios de espinhos. Entre as folhas da paciência, da vontade, da perseverança e da fé, nascem as flores mais lindas de nossa essência.

Pensei comigo também: “Quantos galhos minha bisavó e minha avó já tiveram que cortar nesta vida... E quantos outros já o fizeram por ela... E mesmo vendo aquele toco feio e pobre, sabiam que aquilo era necessário, e que as flores sempre renasceriam belas e perfumadas...” Recolhi os galhos podados, juntei-os com velhos jornais e um plástico sujo que estava na garagem e lá se foi minha avó jogá-los fora... Sei que nascerão outros galhos espinhosos no futuro, porém agora sei por que devem ser podados...


Vamos observar outro fenômeno recorrente no Português Brasileiro, o qual representa nossa verdadeira forma de falar, escrever e usar nosso idioma.







Antes de qualquer coisa, é preciso que todos saibam que existe o CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), o qual não é um órgão governamental, e sim uma ONG (Organização Não Governamental), formada por publicitários e profissionais de áreas diversas, que tem como objetivo, dentre outros, censurar previamente propagandas que ofendam ou agridam os consumidores ou segmentos da sociedade. Tal prerrogativa baseia-se, sobretudo, na linguagem empregada nas campanhas publicitárias brasileiras.

Pois bem, feitas as devidas apresentações, vamos nos concentrar naquele velho e conhecido modo verbal: o imperativo. Ele é usado quando se quer dar uma ordem, um conselho, um pedido ou uma sugestão. Gramaticalmente falando, a formação do imperativo na 2ª pessoa do singular é feita a partir da segunda pessoa do presente do indicativo, suprimindo-se o “s” da desinência verbal (Tu cantas → Canta tu). Entretanto, em alguns casos, quando o falante refere-se ao seu interlocutor como “você”, usa-se o presente do indicativo (Que ele/você cante → Cante você).

No Brasil, o uso dos pronomes pessoais possui particularidades, pois, na maioria das vezes e na maioria dos lugares, as pessoas se tratam por “você”, e não por “tu”. Quando esse último é utilizado, usa-se o verbo na terceira pessoa, e não na segunda (Tu canta). Ou seja, isso implica uma mudança direta no uso e na formação do imperativo pelos brasileiros.

Daí, você deve está se perguntando: o que tem a ver isso com o CONAR e com as propagandas acima? Simples: algumas delas foram proibidas de circularem no país, enquanto uma foi permitida. Isso aconteceu após análise daqueles que controlam as propagandas no nosso país. Apesar de se verificar que em todas elas há uso do imperativo, não é consenso afirmar o que pode ser considerado ofensivo ou não numa propaganda.

Vejam: as duas primeiras (Compre Baton/Beba Coca-Cola) foram proibidas, por serem consideradas ofensivas e expressarem uma ordem direta, quase como uma obrigação. Nos dois casos, temos o uso do imperativo levando-se em consideração o tratamento do interlocutor por “você”. Caso esses textos fossem reescritos, tendo como base o uso do pronome “tu” como tratamento ao interlocutor, teríamos, respectivamente, “Compra Baton” e “Bebe Coca-Cola”. Percebam que, mesmo intuitivamente, parece que há certo relaxamento na linguagem, ou uma forma mais branda de se solicitar algo, como se fosse um conselho ou uma sugestão?

No entanto, a propaganda “Faz um 21” não foi proibida no Brasil. Observa-se que no contexto apresentado, o interlocutor foi tratado por “tu”, mesmo que de forma “errada”, pois o correto, gramaticalmente falando, seria “Faze um 21”, forma quase desconhecida pelos falantes brasileiros. Se esse mesmo texto fosse reescrito utilizando-se como forma de tratamento o pronome “você”, teríamos “Faça um 21”, ou seja, muito mais ofensiva que a original. Obviamente, isso foi muito bem pensado e arquitetado pelos publicitários que criaram essa campanha, de modo a criar essa “sensação de relaxamento”. Além disso, por se tratar de um verbo irregular e anômalo, há essa particularidade no uso do imperativo.

Há, ainda, outros casos de orações que compõem propagandas de cerveja: nos casos de “Beba com Moderação” e “Aprecie com Moderação”, em ambos, o uso foi do pronome “você” como base para o imperativo. E por que não foram proibidas? Na minha opinião, porque não são exatamente os textos que falam sobre os produtos, e sim sobre o consumo do produto de maneira geral, algo como uma recomendação. Contudo, quem se lembra da propaganda “Experimenta!”? Nem preciso dizer por que foi proibida, não é mesmo? Pensem como seria diferente seu sentido, caso fosse reescrita como “Experimente!”.

Enfim, chegamos à conclusão de que o uso do imperativo no Brasil não segue uma regra específica, ou melhor, não há consenso sobre como devemos usá-los, tampouco o que é, de fato, ofensivo ou não na linguagem apresentada numa propaganda. Há uma complexidade muito maior do que aquilo considerado “certo” ou “errado” pelos gramáticos (e pelos manuais de gramática). É preciso, sobretudo, compreender o uso do pronome pessoal de 2ª pessoa, o qual, na sua maioria, é feito com o pronome “você”, mas que ainda conserva, em algumas regiões do país, a forma arcaica “tu”.

Leia (lês) e analise (analisa) tudo isso sem parcimônia!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, M. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

SCHERRE, M. M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação linguística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.




segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Quando eu digo aos meus alunos que eu não consigo parar de pensar em gramática... hehehe... Vejam: nem nas férias eu consigo relaxar!




Estava eu assistindo à boa e velha televisão, quando passou esta propaganda do Governo Federal. Ela apresenta, a priori, duas possibilidades de interpretação. A depender da forma como a compreendemos, haverá sentidos diferentes:

a) Quando analisamos o verbo vencer como intransitivo, podemos observar que pode haver algum adjunto adverbial elíptico ao final da oração, como “Crack, é possível vencer” (sem medo), (sempre), (na vida), (com coragem) etc. Ou ainda, pode-se verificar um tipo de polissemia, como se a palavra “Crack” estivesse ligada à figura do bom jogador de futebol, que joga para vencer;

b) Se analisarmos o mesmo verbo como transitivo direto, aí nossa análise muda consideravelmente, pois é possível construir a mesma oração de três formas diferentes:
  •  “Crack, é possível combatê-lo”, em que há uma construção tipicamente da norma gramatical, na qual o pronome oblíquo retoma o vocativo e temos, nessa situação, uma retomada pleonástica, ou um objeto direto pleonástico;
  •  “Crack, é possível combater ele”, aqui temos um uso comum no Português Brasileiro na sua modalidade falada, na qual não há um alto grau de monitoramento. Percebe-se também uma tendência atual e natural no Brasil de se utilizar o pronome pessoal, que, geralmente, funciona como sujeito da oração, como complemento verbal (no lugar do oblíquo);
  • “Crack, é possível vencer”, a forma utilizada na propaganda, a qual demonstra, primeiramente, o conhecimento linguístico daqueles que a fizeram, pois utilizam o que é conhecido na literatura como “objeto nulo”, forma mais utilizada pelos falantes cultos. Essa forma representa o que há de mais moderno e atual no Português Brasileiro, no que diz respeito ao uso de variedades cultas.


Pois bem: nada na(da) língua é por acaso, já dizia o grande professor Marcos Bagno!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, M. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. 3.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.