Pessoal, boa noite!
Hoje vou compartilhar com todos uma de minhas crônicas preferidas.
Apreciem!
A
ROSEIRA
Há sabedoria por toda parte, só basta olharmos com
calma e refletirmos com paciência. Hoje minha avó decidiu que era hora de podar
uma velha roseira que ela planta aqui em casa. Velha mesmo, porque desde que me
lembro, minha bisavó era quem cuidava dela, da roseira. Tem época que dá rosas
lindas, mas tem época que os galhos secam e é preciso cortar alguns. Porém, a
roseira da minha avó tem uma peculiaridade: como toda roseira que se preze, é
recheada de espinhos pontiagudos e traiçoeiros. Se encostar em um deles, vai
saber que machucam.
Pois bem, vi minha avó levando uma pequena faca e um
cutelo para realizar a penosa tarefa. Pensei comigo: “Coitada, não vai aguentar
dar um golpe...” Pedi, então, que eu realizasse aquela tarefa, diga-se de
passagem, chata e entediante.
Minha avó me orientou e disse quais galhos eu
deveria podar. Uns mais grossos, outros mais finos, uns bem secos, outros
cheios de espinhos. Ela dizia que precisava cortar no mês de agosto, porque em
setembro estariam todos grandes, fortes e brotados de rosas. Nem dei tanto
ouvido aos comentários dela, queria mesmo era derrubar aqueles galhos. Não
satisfeito com as ferramentas que tinha em minhas mãos, pedi a ela que
trouxesse um pequeno serrote, a fim de facilitar minha vida e terminar
rapidamente aquela tarefa.
Ao poucos, percebi que os galhos antes pontudamente
espinhosos e sinuosos caiam com golpes e movimentos serróticos. Alguns caiam em
meus pés, outros furavam meus dedos que, mesmo portando um pano grosso para
segurá-los, não era suficiente para evitar aquela roseira acupunturista. Ao
final, sobrou apenas o toco principal e alguns pequenos galhos já estampando
lindos brotos. Realmente, aquela roseira em seus dias de glória encantava os
olhos de quem a admirasse (e agradava aos ladrõezinhos de rosas que insistiam e
levar algumas). Em minhas mãos, os sinais de trabalho: galos e marcas de
esforço para tentar cortar simples galhos de roseira. Além, é claro, de belas
feridas de espinhos.
Aquela cena tocou-me profundamente, como se a
própria planta ali ferida e desarmada quisesse dizer-me ou me ensinar algo:
sim, como não percebi antes, aquela roseira é a vida de todos nós! Nossos
galhos cheios de espinhos, de defeitos, estão sempre armados, caso alguém se
sinta confortável para se aproximar de nós. Alguns de nossos galhos secam e
caem naturalmente, talvez porque percebamos que eles não nos servem mais.
Outros insistem em permanecer grossos, por nossa vontade ou falta de
consciência.
Sempre haverá quem queira podar alguns galhos em nós.
Talvez muitas mãos (ou corações) se encham de calos e marcas, mas, tal como
minha vontade de cortá-los, essas pessoas não desistem, mesmo sabendo que se
trata de um trabalho que deveria ser feito por nós mesmos. No fundo, sabemos
que precisamos sempre de ferramentas mais potentes e poderosas para derrubar os
galhos mais resistentes. Entretanto, por mais que nos esqueçamos, lá sempre
brotarão as rosas de nossas virtudes. Lá, estrategicamente nascidas nas pontas
dos galhos cheios de espinhos. Entre as folhas da paciência, da vontade, da
perseverança e da fé, nascem as flores mais lindas de nossa essência.
Pensei comigo também: “Quantos galhos minha bisavó e
minha avó já tiveram que cortar nesta vida... E quantos outros já o fizeram por
ela... E mesmo vendo aquele toco feio e pobre, sabiam que aquilo era
necessário, e que as flores sempre renasceriam belas e perfumadas...” Recolhi
os galhos podados, juntei-os com velhos jornais e um plástico sujo que estava
na garagem e lá se foi minha avó jogá-los fora... Sei que nascerão outros
galhos espinhosos no futuro, porém agora sei por que devem ser podados...
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