quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Crônica

Pessoal, boa noite!

Hoje vou compartilhar com todos uma de minhas crônicas preferidas.

Apreciem!


A ROSEIRA

Há sabedoria por toda parte, só basta olharmos com calma e refletirmos com paciência. Hoje minha avó decidiu que era hora de podar uma velha roseira que ela planta aqui em casa. Velha mesmo, porque desde que me lembro, minha bisavó era quem cuidava dela, da roseira. Tem época que dá rosas lindas, mas tem época que os galhos secam e é preciso cortar alguns. Porém, a roseira da minha avó tem uma peculiaridade: como toda roseira que se preze, é recheada de espinhos pontiagudos e traiçoeiros. Se encostar em um deles, vai saber que machucam.

Pois bem, vi minha avó levando uma pequena faca e um cutelo para realizar a penosa tarefa. Pensei comigo: “Coitada, não vai aguentar dar um golpe...” Pedi, então, que eu realizasse aquela tarefa, diga-se de passagem, chata e entediante.

Minha avó me orientou e disse quais galhos eu deveria podar. Uns mais grossos, outros mais finos, uns bem secos, outros cheios de espinhos. Ela dizia que precisava cortar no mês de agosto, porque em setembro estariam todos grandes, fortes e brotados de rosas. Nem dei tanto ouvido aos comentários dela, queria mesmo era derrubar aqueles galhos. Não satisfeito com as ferramentas que tinha em minhas mãos, pedi a ela que trouxesse um pequeno serrote, a fim de facilitar minha vida e terminar rapidamente aquela tarefa.
Ao poucos, percebi que os galhos antes pontudamente espinhosos e sinuosos caiam com golpes e movimentos serróticos. Alguns caiam em meus pés, outros furavam meus dedos que, mesmo portando um pano grosso para segurá-los, não era suficiente para evitar aquela roseira acupunturista. Ao final, sobrou apenas o toco principal e alguns pequenos galhos já estampando lindos brotos. Realmente, aquela roseira em seus dias de glória encantava os olhos de quem a admirasse (e agradava aos ladrõezinhos de rosas que insistiam e levar algumas). Em minhas mãos, os sinais de trabalho: galos e marcas de esforço para tentar cortar simples galhos de roseira. Além, é claro, de belas feridas de espinhos.

Aquela cena tocou-me profundamente, como se a própria planta ali ferida e desarmada quisesse dizer-me ou me ensinar algo: sim, como não percebi antes, aquela roseira é a vida de todos nós! Nossos galhos cheios de espinhos, de defeitos, estão sempre armados, caso alguém se sinta confortável para se aproximar de nós. Alguns de nossos galhos secam e caem naturalmente, talvez porque percebamos que eles não nos servem mais. Outros insistem em permanecer grossos, por nossa vontade ou falta de consciência.

Sempre haverá quem queira podar alguns galhos em nós. Talvez muitas mãos (ou corações) se encham de calos e marcas, mas, tal como minha vontade de cortá-los, essas pessoas não desistem, mesmo sabendo que se trata de um trabalho que deveria ser feito por nós mesmos. No fundo, sabemos que precisamos sempre de ferramentas mais potentes e poderosas para derrubar os galhos mais resistentes. Entretanto, por mais que nos esqueçamos, lá sempre brotarão as rosas de nossas virtudes. Lá, estrategicamente nascidas nas pontas dos galhos cheios de espinhos. Entre as folhas da paciência, da vontade, da perseverança e da fé, nascem as flores mais lindas de nossa essência.

Pensei comigo também: “Quantos galhos minha bisavó e minha avó já tiveram que cortar nesta vida... E quantos outros já o fizeram por ela... E mesmo vendo aquele toco feio e pobre, sabiam que aquilo era necessário, e que as flores sempre renasceriam belas e perfumadas...” Recolhi os galhos podados, juntei-os com velhos jornais e um plástico sujo que estava na garagem e lá se foi minha avó jogá-los fora... Sei que nascerão outros galhos espinhosos no futuro, porém agora sei por que devem ser podados...


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