Boa noite!
Pessoal, hoje vou
escrever sobre um tema bastante polêmico e que sempre gera dúvidas entre os
alunos, além de causar discussão entre os professores de gramática: a Voz Passiva.
A princípio, vamos
entender que uma oração estará na voz ativa quando houver um sujeito ativo que
pratica alguma ação (Meu tio aluga salas). Já a voz passiva pode se apresentar
de duas formas:
a) Voz Passiva
Analítica: Meu tio aluga salas → Salas
são alugadas pelo meu tio, na qual o objeto direto torna-se sujeito
paciente da oração, o verbo torna-se locução verbal (com o auxílio dos verbos
ser, estar e ficar) e o sujeito da voz ativa torna-se agente da passiva, sempre
preposicionado;
b) Voz Passiva
Sintética: Alugam-se salas, na qual
não há agente da passiva, apenas o verbo (transitivo direto ou transitivo
direto e indireto) seguido da partícula apassivadora “se”, mais o “sujeito”.
Pois bem, qual é o
problema da Voz Passiva?
Primeiramente, é
possível confundir o uso do pronome “se”, o qual, em alguns contextos, pode vir
a ser Índice de Indeterminação do Sujeito, ou seja, marca que na oração o
sujeito não pode ser determinado (Precisa-se de professores). Neste caso, não é
possível transformar a Voz Passiva Sintética em Voz Passiva Analítica, além
disso, para esse caso, os verbos deverão ser transitivos indiretos,
intransitivos ou de ligação.
Em segundo lugar, a Voz
Passiva Sintética só acontece, gramaticalmente falando, quando verbo e “sujeito”
(que mais parece um complemento verbal) concordam entre si. Ou seja, é como se
esse “complemento” funcionasse como sujeito da oração, ou melhor, funciona como
sujeito paciente na Voz Passiva Analítica (Alugam-se salas → Salas são
alugadas).
Porém, percebam: mesmo
em se tratando de uma regra gramatical, observa-se um problema em relação à
classificação do sujeito? Na oração “Alugam-se casas”, quem está realizando a
ação? As casas? Certamente, não. Então, pode-se concluir que o sujeito também é
indeterminado, não é mesmo? Infelizmente, a gramática insiste em afirmar que
esse sujeito é simples. Como assim, você deve estar se perguntando?
Pois é... É um dos
problemas da nossa querida gramática. Ela, por si só, não dá conta de resolver
esses problemas. Vejam: intuitivamente, você sabe que o sujeito não está
marcado ali. Dessa forma, tanto faz se o verbo estiver no plural ou no singular
(Aluga-se casas/Alugam-se casa), certo? No entanto, a gramática só aceita que o
verbo esteja concordando com esse termo que vem logo depois da Partícula
Apassivadora.
Você, provavelmente, já
viu placas ou propagandas por aí escritas de maneira diferente, certo? Tais
como “Joga-se búzios”, “Aluga-se casas”, “Vende-se lotes” etc. Observem que,
mesmo grafadas de maneira “errada”, essas formas representam exatamente o que o
falante quis informar: há alguém, não mencionado, que joga búzios, que aluga
casas, que vende lotes. Ou seja, o brasileiro, todos os dias, usa corretamente
essas formas sem cometer nenhum erro. No entanto, os gramáticos continuam
insistindo nessa regra ultrapassada e sem sentido. Não estou dizendo que vocês
devem abolir de vez a regra e seguir o que estou afirmando. Apenas quero
ressaltar que há fenômenos na nossa língua que não são mencionados pelas
gramáticas em geral.
Creio, ainda, que essa história de dar nomes de Partícula Apassivadora e Índice de Indeterminação do Sujeito também deve ser extinta. Para uma reorganização desse fenômeno, leiam o segundo livro que está nas referências abaixo, o qual foi escrito pelo professor Marcos Bagno.
Certo é que o falante
sabe das coisas e usa o Português Brasileiro todos os dias, com maestria e
sabedoria. Por que não aceitar de vez ambas as formas como legítimas do nosso
idioma, porém uma em variedades mais cultas, e outra em variedades mais
populares? Ou mesmo que AMBAS ocorrem em contextos mais formais e menos
formais?
Enfim, resta-nos
esperar pelo reconhecimento do nosso verdadeiro idioma...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, M.. Português ou brasileiro? um convite à
pesquisa. 3a Edição. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
_____. Não é errado falar assim! Em defesa do
português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
SCHERRE, M. M. P.. Doa-se lindos filhotes
de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola
Editorial, 2005.
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