quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vai entender...

Boa noite!

Pessoal, hoje vou escrever sobre um tema bastante polêmico e que sempre gera dúvidas entre os alunos, além de causar discussão entre os professores de gramática: a Voz Passiva.

A princípio, vamos entender que uma oração estará na voz ativa quando houver um sujeito ativo que pratica alguma ação (Meu tio aluga salas). Já a voz passiva pode se apresentar de duas formas:

a) Voz Passiva Analítica: Meu tio aluga salas → Salas são alugadas pelo meu tio, na qual o objeto direto torna-se sujeito paciente da oração, o verbo torna-se locução verbal (com o auxílio dos verbos ser, estar e ficar) e o sujeito da voz ativa torna-se agente da passiva, sempre preposicionado;

b) Voz Passiva Sintética: Alugam-se salas, na qual não há agente da passiva, apenas o verbo (transitivo direto ou transitivo direto e indireto) seguido da partícula apassivadora “se”, mais o “sujeito”.

Pois bem, qual é o problema da Voz Passiva?

Primeiramente, é possível confundir o uso do pronome “se”, o qual, em alguns contextos, pode vir a ser Índice de Indeterminação do Sujeito, ou seja, marca que na oração o sujeito não pode ser determinado (Precisa-se de professores). Neste caso, não é possível transformar a Voz Passiva Sintética em Voz Passiva Analítica, além disso, para esse caso, os verbos deverão ser transitivos indiretos, intransitivos ou de ligação.

Em segundo lugar, a Voz Passiva Sintética só acontece, gramaticalmente falando, quando verbo e “sujeito” (que mais parece um complemento verbal) concordam entre si. Ou seja, é como se esse “complemento” funcionasse como sujeito da oração, ou melhor, funciona como sujeito paciente na Voz Passiva Analítica (Alugam-se salas → Salas são alugadas).

Porém, percebam: mesmo em se tratando de uma regra gramatical, observa-se um problema em relação à classificação do sujeito? Na oração “Alugam-se casas”, quem está realizando a ação? As casas? Certamente, não. Então, pode-se concluir que o sujeito também é indeterminado, não é mesmo? Infelizmente, a gramática insiste em afirmar que esse sujeito é simples. Como assim, você deve estar se perguntando?

Pois é... É um dos problemas da nossa querida gramática. Ela, por si só, não dá conta de resolver esses problemas. Vejam: intuitivamente, você sabe que o sujeito não está marcado ali. Dessa forma, tanto faz se o verbo estiver no plural ou no singular (Aluga-se casas/Alugam-se casa), certo? No entanto, a gramática só aceita que o verbo esteja concordando com esse termo que vem logo depois da Partícula Apassivadora.



Você, provavelmente, já viu placas ou propagandas por aí escritas de maneira diferente, certo? Tais como “Joga-se búzios”, “Aluga-se casas”, “Vende-se lotes” etc. Observem que, mesmo grafadas de maneira “errada”, essas formas representam exatamente o que o falante quis informar: há alguém, não mencionado, que joga búzios, que aluga casas, que vende lotes. Ou seja, o brasileiro, todos os dias, usa corretamente essas formas sem cometer nenhum erro. No entanto, os gramáticos continuam insistindo nessa regra ultrapassada e sem sentido. Não estou dizendo que vocês devem abolir de vez a regra e seguir o que estou afirmando. Apenas quero ressaltar que há fenômenos na nossa língua que não são mencionados pelas gramáticas em geral.

Creio, ainda, que essa história de dar nomes de Partícula Apassivadora e Índice de Indeterminação do Sujeito também deve ser extinta. Para uma reorganização desse fenômeno, leiam o segundo livro que está nas referências abaixo, o qual foi escrito pelo professor Marcos Bagno. 

Certo é que o falante sabe das coisas e usa o Português Brasileiro todos os dias, com maestria e sabedoria. Por que não aceitar de vez ambas as formas como legítimas do nosso idioma, porém uma em variedades mais cultas, e outra em variedades mais populares? Ou mesmo que AMBAS ocorrem em contextos mais formais e menos formais?


Enfim, resta-nos esperar pelo reconhecimento do nosso verdadeiro idioma...


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, M.. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. 3a Edição. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

_____. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

SCHERRE, M. M. P.. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.


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