Quando eu digo aos meus
alunos que eu não consigo parar de pensar em gramática... hehehe... Vejam: nem
nas férias eu consigo relaxar!
Estava eu assistindo à boa e velha televisão, quando passou esta propaganda do Governo Federal. Ela
apresenta, a priori, duas possibilidades de interpretação. A depender da forma
como a compreendemos, haverá sentidos diferentes:
a) Quando analisamos o
verbo vencer como intransitivo, podemos observar que pode haver algum adjunto
adverbial elíptico ao final da oração, como “Crack, é possível vencer” (sem
medo), (sempre), (na vida), (com coragem) etc. Ou ainda, pode-se verificar um
tipo de polissemia, como se a palavra “Crack” estivesse ligada à figura do bom
jogador de futebol, que joga para vencer;
b) Se analisarmos o
mesmo verbo como transitivo direto, aí nossa análise muda consideravelmente,
pois é possível construir a mesma oração de três formas diferentes:
- “Crack, é possível combatê-lo”, em que há uma construção tipicamente da norma gramatical, na qual o pronome oblíquo retoma o vocativo e temos, nessa situação, uma retomada pleonástica, ou um objeto direto pleonástico;
- “Crack, é possível combater ele”, aqui temos um uso comum no Português Brasileiro na sua modalidade falada, na qual não há um alto grau de monitoramento. Percebe-se também uma tendência atual e natural no Brasil de se utilizar o pronome pessoal, que, geralmente, funciona como sujeito da oração, como complemento verbal (no lugar do oblíquo);
- “Crack, é possível vencer”, a forma utilizada na propaganda, a qual demonstra, primeiramente, o conhecimento linguístico daqueles que a fizeram, pois utilizam o que é conhecido na literatura como “objeto nulo”, forma mais utilizada pelos falantes cultos. Essa forma representa o que há de mais moderno e atual no Português Brasileiro, no que diz respeito ao uso de variedades cultas.
Pois bem: nada na(da) língua é por acaso, já dizia o
grande professor Marcos Bagno!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, M. Português ou brasileiro? um convite
à pesquisa. 3.ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.
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