Boa noite! Tudo bem?
Bom, vou falar hoje
sobre o uso de alguns verbos ditos impessoais, ou seja, aqueles que não se
ligam a nenhum sujeito.
Normalmente, o verbo “haver”,
quando exprime o sentido de existir, é sempre impessoal e invariável (Havia
pessoas na manifestação). No entanto, o verbo existir, se usado numa oração,
não é impessoal, possui sujeito e varia (Existiam pessoas na manifestação). Observe
agora esta belíssima canção do grande Lulu Santos:
Há alguns versos
interessantes na letra dessa música os quais merecem atenção:
“Não existiria som se não houvesse o silêncio/ Não haveria luz se não fosse a escuridão (...) Tem
certas coisas que eu não sei dizer”
Vejam os verbos desses
versos: o primeiro deles é “existiria” e seu sujeito é “som”; “houvesse” e “haveria”
são impessoais, portanto, não precisam de sujeito. Agora há dois verbos (fosse
e tem) os quais, nesse contexto, podem se trocados por “haver” ou “existir”.
Não está contemplado
nas gramáticas normativas o uso desses verbos desta maneira, o que nos leva a
pensar que se trata de um uso legítimo e próprio do Português Brasileiro. Além
disso, no caso do verbo “tem”, é preciso que ele venha acentuado (Têm), pois há
um sujeito posposto no plural.
Agora, observem esta
canção do grupo Falamansa:
Vamos analisar a
primeira estrofe da música:
“Não haveria guerra, se não fosse a ignorância./ Não haveria acordo que não fosse a paz./ Eu poderia até andar
descalço pela rua, / Não haveriam
cacos pra cortar os pés”
Aqui, temos o verbo “haveria”,
nos dois primeiros casos, usado da maneira contemplada pela gramática, ou seja,
impessoal (com sentido de existir) e invariável. O verbo “fosse”, entretanto,
não funciona do mesmo modo nas duas ocorrências: no primeiro caso, pode ser
substituído por “haver” ou “existir”, mas no segundo caso é um verbo de ligação,
ou seja, o acordo poderia ser a paz, seria a paz, é a paz.
Ao final, observamos que
o verbo “haveria”, apesar de ser impessoal, está no plural! Como pode isso? Em
variedades mais populares da língua, as pessoas conjugam o verbo “haver” como
se fosse outro verbo qualquer, porque muitos falantes desconhecem o que é um
verbo impessoal. Eu pergunto: qual o problema de se usar esse verbo no plural,
mesmo sendo impessoal? Talvez ele não seja tão impessoal assim... Talvez o
falante, que é inteligente e conhece muito bem o idioma que usa, tenha criado
uma nova forma de se usar esse verbo, não como impessoal, mas como um verbo que
pede sujeito. No caso da música, talvez seja apenas “licença poética”, mas
creio que se trata de uma situação de mudança linguística em curso...
Enfim, há tantas formas
de se usar os verbos e haverá(ão) muitas possibilidades no futuro. Têm muitas
coisas que precisam ser explicadas...
oi professor seus textos são ótimos...
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